Jovens experimentam o efeito Facebook
Empreendedores considerados novos pelo mercado mostram que pouca idade não significa inexperiência
Matheus Recche | TodoDia Imagem |
Henrique Toledo e Erik Curado, da C4 Publicidade: precoces de sucesso |
Na contramão, a participação de pessoas com idade entre 30 e 64 anos caiu no mercado regional no período. A faixa etária que sofreu o maior impacto foi a de 30 a 39 anos, que representava 32% dos novos empreendedores em 2000 e passou para 27% em 2009.
É o que aponta levantamento do economista Laerte Martins, da Acic (Associação Comercial e Industrial de Campinas) com base em informações da Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo).
A participação de empresários entre 25 e 29 anos passou de 19% para 21% no período e, entre 40 e 49 anos caiu de 24% para 20% de 2000 a 2009. Essa geração “Y”, formada por nascidos nas décadas 1980 e 1990, plugada na Internet e desprendida de valores das gerações anteriores, reflete a atitude pessoal na forma de gerenciamento de suas empresas.
Em algums desses novos negócios, principalmente nos de TI (Tecnologia da Informação), os uniformes são abolidos e o importante é o resultado final.
PRECOCES
Aos 16 anos, Millor Machado ingressou no curso de engenharia de controle e automação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Mas, antes de concluir o curso, quando tinha apenas 21 anos, ele e o amigo Luiz Alberto Piovesana - quatro anos mais velho - criaram a Empreendemia, uma rede social de contatos para o ambiente empresarial. “A ideia surgiu após fazer um curso, em 2008, na Babson (considerada a melhor business school do mundo na área do empreendedorismo), nos Estados Unidos”, revelou.
Piovesana, nesta época, fazia estágio em um instituto de empreendedorismo na Alemanha, que é referência na Europa. “Pensamos em trazer para o País um site focado em conectar empreendedores e investidores, mas identificamos que ele não se adaptaria ao mercado brasileiro”, disse Machado. Com o negócio na cabeça, a dupla criou a empresa em fevereiro de 2009, mas só, depois, com a entrada do terceiro sócio, que desenvolveu a tecnologia, é que o site deslanchou. Hoje, a Empreendemia conta com 5,2 mil empresas cadastradas. “Cada um de nós não desembolsou mais do que R$ 2 mil para fundá-la”, contabiliza.
“A gente trabalha de bermuda mesmo e nos intervalos jogamos futebol no vídeo game”, revelou Piovesana. Em 2001, com 21 anos, o publicitário Erik Curado conheceu Henrique Souza de Toledo Leme no primeiro ano do curso de propaganda e publicidade e abriram a C4 Publicidade, com um cliente que era amigo. “Três meses depois, já tínhamos cinco clientes”, disse Curado, que hoje é vice-presidente da APP (Associação dos Profissionais de Propaganda) de Campinas e Região. “A gente foi aprendendo na faculdade a administração do negócio”, revela. O pai de Curado tinha uma produtora de vídeo, o que ofereceu aos então precoces empreendedores as principais noções de mercado.
Para a Clarisse Barreiros, coordenadora do Núcleo Digital do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) de São Paulo, o empreendedorismo é uma características presente no mais jovens. “Eles são mais impetuosos e não têm medo de arriscar”, analisa.
Segundo Clarisse, os jovens empreendedores dão preferência ao setor de prestação de serviço. “Existem várias formas de negócios diferenciadas criadas por eles, como a loja colaborativa, onde boxes são alugados para que todo mundo possa expor e vender o que quiser. Para empreender uma ideia na loja basta criar uma marca e alugar o tal espaço para comercializar os produtos”, explica.
INSATISFAÇÃO
O diretor de Projetos Especiais da Apoema Inteligência em Pessoas, Marcos Tonin, afirmou que o empreendedorismo está cada vez mais precoce e se deve à uma nova geração que se encontra mais “insatisfeita” com a forma tradicional de trabalho. “Ela tem pressa e quer as coisas para ontem, caso contrário cansa.” Em 2010, a Apoema registrou um aumento de cerca de 20% na procura de atendimento por jovens empreendedores entre 20 e 25 anos. “São jovens inexperientes, que acabaram de sair da faculdade ou mesmo em curso, que querem iniciar a carreira no próprio negócio.”
Para Tonin, essa atitude tem o lado motivador e o preocupante. “As faculdades, em geral, não preparam os profissionais para o mercado de trabalho. Tudo é muito teórico e pouco aplicável. A prática exige muito mais do que simplesmente o conhecimento raso da matéria. O principal entrave destes novos empreendedores é o tempo. Como tudo tem que ser muito rápido, eles esperam que o mercado absorva as novas empresas em tempo recorde, o que, obviamente, não acontece na grande maioria dos casos. Isso tem gerado frustração e os jovens empresários logo desistem do negócio e partem para outro.”
Segundo João Batista Pereira Jr, da JR Consultoria Empresarial, nos últimos cinco anos, 22% de seus clientes são empresas novas, comandadas por dirigentes entre 25 a 35 anos. “Quase 40% são de jovens, contemplando também executivos, até 40 anos.” Para ele, esses jovens procuram um caminho próprio. “As empresas modernas são constituídas de pessoas de bem com seu mundo e que procura aliar o pessoal com o profissional, como os criadores do YouTube e do Facebook - jovens que brincando transformaram suas organizações em empreendimentos de sucesso mundial”, disse.
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