Por Martinho Lutero
Talvez alguém fique preocupado, pensando que é difícil defender a honra de Deus em meio a tudo isso. E talvez diga: "Afinal de contas, Deus condena aqueles que não podem evitar de ser pecaminosos, e que são forçados a per¬manecer dessa maneira porque Ele não os escolheu para a salvação". Como Paulo diz: "...éramos por natureza filhos da ira, como também os demais" (Ef 2.3).
Porém, você poderá ver essas questões por um outro ângulo. Deus deveria ser reverenciado e respeitado por ser misericordioso para todos quantos Ele justifica e salva, embora sejam totalmente indignos. Sabemos que Deus é divino. Ele também é sábio e justo. A sua justiça não é da mesma categoria que a justiça humana. Ela está acima de nosso poder de apreensão plena, conforme Paulo exclama, em Romanos 11.33: "Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis os seus caminhos!"
Se concordamos que a natureza, o poder, a sabedoria e o conhecimento de Deus estão muito acima dos nossos, então também deveríamos acreditar que a sua justiça é maior e melhor do que a nossa. Ele nos fez a promessa de que quando chegar a revelar para nós a sua glória, então veremos claramente aquilo no que agora devemos acreditar — que Ele é justo, sempre o foi e sempre o será.
Eis um outro exemplo. Se você usar da razão humana para considerar a maneira como Deus governa os acontecimentos do mundo, será forçado a dizer ou que Deus não existe, ou que Deus é injusto. Os ímpios prosperam e os piedosos sofrem (Jó 12.6 e SI 73.12), e isso parece ser injusto. Por esse motivo, muitos homens negam a existência de Deus e dizem que as coisas acontecem impelidas pelo acaso. A resposta que damos a essa questão é que há uma vida após a vida presente, e que tudo quanto não tiver sido castigado e corrigido nesta vida, será castigado e corrigido na vida futura.
A vida terrena nada mais é que uma preparação para ou o começo da vida que virá. Esse problema tem sido debatido por toda a História, mas a solução não tem sido encontrada, exceto pela crença no evangelho, conforme ele se acha nas páginas da Bíblia. Três raios de luz brilham sobre essa questão: o raio da natureza, o da graça divina e o da glória celestial. Mediante o raio de luz da natureza, Deus parece ser injusto, porquanto os piedosos sofrem e os ímpios prosperam. O raio de luz da graça divina ajuda-nos a compreender melhor as coisas, embora ainda não explique como Deus pode condenar alguém que, por suas próprias forças, nada pode fazer senão pecar e ser culpado.
Somente o raio de luz da glória celeste explicará isso plenamente, naquele dia vindouro, quando Deus revelar a Si mesmo como inteiramente justo, embora os seus juízos ultrapassem a nossa limitada compreensão de seres humanos. Um homem piedoso crê que Deus conhece de antemão e preordena todas as coisas, e que nada acontece senão pela sua soberana vontade. Nenhum homem, ou anjo, ou qualquer outra criatura, em vista desses fatos, é dotado de "livre-arbítrio". Satanás é o príncipe deste mundo e conserva cativos a todos os homens, a menos que eles sejam libertos pelo poder do Espírito Santo.
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Fonte: Nascido Escravo, Ed. Fiel, Cap. 1, Argumento 19.
Autor: Martinho Lutero.
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